Criação precisa de ambiente apropriado e, dependendo da espécie, regulamentação junto ao Ibama
Animais exóticos, aqueles que não são nativos da fauna brasileira, estão sendo cada vez mais comuns no meio doméstico. Mini pigs já podem ser vistos em apartamentos, assim como ouriços e coelhos, dos mais diferentes tamanhos, que começam a ganhar o coração dos apaixonados por pets. Já os silvestres, nativos da fauna brasileira, também são muito queridos mas exigem, além do carinho, ambiente próprio e autorização junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Atuante na área clínica e cirurgia de cães, gatos e animais silvestres na Clínica Espaço Veterinário, o médico veterinário Adelmo Guilhoto Miguel considera que os animais silvestres e exóticos estão sendo opção para quem procura um pet como novo amigo. Segundo ele, no Brasil, serpentes estão sendo encontradas com facilidade para estimação, principalmente a corn snake (cobra do milho), por conta de sua docilidade e facilidade de manejo. “Temos um mercado se abrindo também para as aranhas caranguejeiras, várias espécies de lagartos e até mesmo para as baratas de Madagascar”, relaciona, citando ainda os pequenos roedores, como o rato twister. Porém as aves silvestres, como arara e papagaio, e as exóticas, como calopsitas e cacatuas, ainda são as preferidas para companhia.
Adelmo ressalta que esses animais com particularidades extremas necessitam de ambiente com espaço, temperatura e umidade adequadas, assim como alimentação correta, tanto em quantidade, quanto frequência. “É necessária experiência por parte do tutor, que sempre deve procurar informações certas com um médico veterinário especializado”, recomenda, reforçando que a regulamentação é uma exigência para os animais nativos da fauna brasileira, como papagaios, araras e jabutis. “É importante averiguar nesses casos a idoneidade do criador, verificando as condições em que o animal é criado, se há registro de licença emitido pelo Ibama, se possui todas as documentações e se está chipado ou anilhado.”
O veterinário explica, ainda, que essas espécies, geralmente vistas no meio selvagem, podem ser domesticadas, porém deve-se levar em conta que muitas possuem geneticamente o ‘imprint’ selvagem de defesa contra predadores e podem reagir agressivamente e de forma inesperada ao contato humano. “É caso, por exemplo, dos primatas e de algumas aves e répteis”, orienta, adiantando que, em ataques, a pessoa deve procurar o serviço de saúde mais próximo e informar o ocorrido. “Medidas como vacinação antirrábica, antitetânica e cuidados de suporte são essenciais para evitar complicações médicas.”
Ainda de acordo com Adelmo, é possível um animal exótico conviver com um doméstico, apesar de não ser aconselhável em todas as situações. “Temos muitos casos bem-sucedidos de amizades sinceras entre espécies diferentes, mas cada situação deve ser avaliada individualmente, já que há uma grande variação de temperamento entre os animais. Já atendemos a diversos jabutis mutilados gravemente por mordidas de cães e muitas aves apresentando distúrbios emocionais ou graves lesões causadas por cães e gatos.”
Assim, animais exóticos, se bem cuidados, podem ultrapassar as expectativas de vida já estipuladas. “Um hamster pode chegar a 3 anos, um twister a 5, um papagaio aos 80 e um jabuti pode passar dos 150 anos”, destaca Adelmo, frisando que o cuidado veterinário interfere de forma direta no tempo de vida do animal. “O objetivo principal sempre é a saúde preventiva através do diagnóstico precoce de doenças e a otimização das condições ambientais e alimentares. Temos sempre a preocupação com as zoonoses. Promover o bem-estar animal e proteger as pessoas e os pets de doenças zoonóticas é a grande missão da medicina veterinária.”